terça-feira, 15 de julho de 2008

Extinção


Quase tudo nesta foto foi extinto. O caminho está sob metros e metros d'água, não existe mais e o carro eu bati num poste e também não existe mais. Restou eu, com as lembranças de um tempo difícil e feliz. Tempo de viver e principalmente sobreviver. Cada manhã um desafio físico e inesperado, dias que não tinham como ser iguais. Cansada, recebia de presente um crepúsculo e o laranja do céu que estrelava mais tarde. Mirava até onde a água chegaria um dia e pensava somente em dormir. No silêncio ouvia bichos indecifráveis, criaturas desconhecidas que vinham abrigar na luz da minha choupana. Aceitava dividir o espaço, afinal de contas eu havia invadido o espaço que era deles. Não consigo entender a saudade que eu sinto de toda aquela dificuldade, daquele lugar perdido e distante. Um tempo de extrema solidão e companhia de mim mesma, mas que me surpreendia pelo modo de vida simples e desengonçado de toda aquela gente que também sobreviveu à água e paradoxalmente à falta dela. Seca, terra rachada, pés descalços e poeira nos joelhos. O céu estrelado me bastava para querer ver um outro dia nascer.

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