domingo, 28 de setembro de 2008

Desejo profundo

Vontade de não tossir nunca mais e fazer bolhas com o nariz debaixo da queda de uma cachoeira...

sábado, 27 de setembro de 2008

Mãos

Ela me relatou e foi quase como se eu pudesse sentir o que dizia. Quando ele pegou nas mãos dela passou um filme futuro em sua mente. Juntos, companheiros, com um trabalho em comum e sonhos também, pra aqui perto e lá longe. Ainda que ela não quisesse abrir agora o seu coração, aconteceu. As grandes coisas não se planejam, aparecem como sopro de brisa que traz o recado e o leva de volta aos ouvidos do criador. Aquelas mãos juntas, por três segundos, foram tudo que ela precisava pra se reerguer. Tonteou de confusa e quentura que deu. Ela pensou no por quê das coisas serem sempre tão complicadas, e no por quê também dele não segurar mais forte e um pouco mais o que não era pra ter fim. Chego a ver a cena, um desconcerto cabreiro, manso e tímido por uma centelha acesa na alma. Mas existem as escolhas, que limitam os acontecimentos em metade por cento. A outra parte não diz o que sente e passa o tempo sem que outros momentos como aquele sejam restauradores do dia. Quando ela descreveu as mãos juntas, percebi que em muitos momentos da nossa vida as coisas ficam mais fáceis quando se tem mãos a quem contar. Nesse caso, ela queria também lábios aos quais beijar...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sempre é tempo de aprender



Meu primo Rafael, dois aninhos, fazendo sanduiche.

Pensamento

"Como eu suportaria viver se não pudesse ser também poeta? Viver é mais do que sobreviver - é narrar". Nietzsche

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Jacó e Matheus

Existem pequenos espaços, pontos de luz, perdidos no meio da cidade grande. Jacó e Matheus é um deles, uma casinha disponível para o trabalho, fraternidade, amor. O que tem de mais bonito do ser humano é a capacidade, apesar de todos os acontecimentos da atualidade, de doar um pouco de si, sem pretenção ou vaidade. O bem e o mal existem, não em um niilismo extremo, dividido entre duas alas humanas, mas em nós mesmos. Cabe escolher. E procurar pelo bem, pois ele existe e aos montes. Graças a Deus.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Medo

Quando você tá com medo e encontra alguém com mais medo que você em uma mesma situação, você enfia o seu medo entre as pernas e ajuda o outro. Não sei como, mas acontece. Aconteceu comigo.

Cuidado da alma

Uma amiga me escreveu o seguinte: "Claude Bernard dizia: "o micróbio não é nada, o terreno, sim, é tudo. O que faz eclodir uma enfermidade são miríades de criaturas minúsculas e invisíveis. Agindo juntas, não são outra coisa que o corpo do espírito malígno. Elas não podem atacar a não ser aquele que, por si mesmo, abre uma brecha em sua alma... ou seja a vulnerabilidade orgânica é uma consequência imediata de um estado psiquico caracterizado com uma "brecha na alma" aberta "por si mesmo". Parece cruel mas é bonito. É um convite pra cuidar da alma, da psique... é isso o que mais quero fazer.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A nuvem

Tenho uma nuvem no peito, segundo os médicos. Ela está se movendo nos pulmões rapidamente, de um lugar para o outro, como se estivesse brincando com todos que ficam tentando descobri-la. Mas a brincadeira já está ficando sem graça e não quero saber de coisa estranha andando em mim. Vamos combinar, eu vivo na terra e você, nuvem, vive no céu. Cada um na sua.

O Corpo

" O filósofo grego Heráclito foi o autor do famoso comentário: não podemos entrar num rio duas vezes no mesmo lugar, já que ele está em constante mudança com a chegada de novas águas. O mesmo acontece com o corpo e todos nós nos parecemos muito mais com um rio do que com qualquer coisa petrificada no tempo e no espaço.

Se você pudesse ver seu corpo como realmente é, nunca o veria repetir-se. Noventa por cento dos átomos de nosso corpo não estavam nele há três meses. De certa forma, a configuração das células ósseas permanece a mesma; no entanto, átomos de todos os tipos atravessam livremente as paredes celulares, o que significa que adquirimos um novo esqueleto a cada três meses.

A pele se renova a cada mês; adquirimos novo revestimento no estômago a cada quatro dias com a renovação constante da superfície que entra em contato com os alimentos a cada cinco minutos; as céluas do fígado se renovam de modo mais lento,mas novos átomos flutuam tranquilamente através delas, como a água do leito de um rio, fabricando um fígado a cada seis semanas. Mesmo no interior do cérebro, cujas células não são substituídas depois que morrem, o teor do carbono, nitrogênio, oxigênio etc. é hoje inteiramente diverso do de um ano atrás.

O corpo humano continua parecendo o mesmo, dia a dia, mas através de processos de respiração, eliminação e outros vive em constante sistema de troca com o resto do mundo..." (Chopra, Deepak. A cura quântica.)

A cada dia você pode ser alguém diferente...

sábado, 20 de setembro de 2008

Bons ventos...



O Vento. Los hermanos

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Mineirês

Hoje fui "fazer" as sobrancelhas numa esteticista que trabalha em casa mesmo. Cheguei um pouco adiantada e para aguardar fiquei sentada perto da horta do fundo da casa dela, aproveitando o sol no dia frio que estava. Foi então que apareceu uma senhora no quintal e disse: "Quentano um solim aí?". Eu: Tô... e sorri um sorriso largo. Achei tão bonito o jeito mineirês dela, matei até a saudade da roça...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Desconforto

A vida tem coisas estranhas, mas que ensinam muito. Foge às vezes da nossa capacidade de entendimento. Um dia eu estava na Suiça, comendo chocolate e comida tailandesa, no outro eu estava no hospital Julia Kubitchek numa maca no corredor sem colchão, tábua fria que doía a coluna. Com máscara, oxigênio e medo, as lágrimas escorriam dos meus olhos por várias coisas. Olhava pro lado e via o sofrimento alheio, olhava pra mim e via a vontade daquilo tudo acabar. Médicos, enfermeiros, assistentes, vinham tratar de um pulmão, de outra vesícula, do pé quebrado, mas não vinham tratar de gente, da gente. Gente não merece essas coisas, por mais filha da puta que a pessoa seja. Vi que todos somos iguais, e eu já tinha aprendido isso bem antes. Vontade de ter tido força suficiente pra não deixarem o velho daquele jeito, a menina daquele outro e eu assim. Enfim, estamos em época de eleição e vamos colocar lá "em cima" as pessoas que vão esbarrar nessa maldita política pública que nós temos. O pior que vamos eleger o cara que tá na lista do mensalão, o que financiou com dinheiro público a candidatura de outro, etc. Porque política não interessa ninguém, sofremos então as consequências. Gostamos do SUS, da falta de educação, da violência e como diz uma amiga minha, pagamos uma empregada doméstica pra ficar o dia todo em nossas casas enquanto os filhos dela ficam sozinhos na rua da favela. Isso é conforto. E tudo isso me causa grande desconforto. Não é a toa que não conseguem pegar fácil o meu sangue nos exames, porque o que eu devo ter na veia deve ser outra coisa...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Encomenda por sedex

Eu já ganhei muita coisa diferente, inusitada. Mas acho que essa superou.Um amigo meu, da época da CEMIG veio me visitar outro dia e me achou um tanto "magrinha". Ele foi embora e dois dias depois recebo uma encomenda por sedex dele. Não estava muito em condições nem de segurar a caixa, mas minha mãe abriu e disse: "Renata, você acaba de ganhar uma dúzia de ovos caipira! quebraram quatro!". Tô começando a acreditar que tem coisa que, realmente, só acontece comigo...

Recomeço

Quando eu voltei da Europa despertou uma vontade grande de não morar mais no Brasil. Inúmeros fatores: respeito, justiça, honestidade, confiança, segurança e dignidade. Valores que no meu País estão cada vez mais esquecidos. Eu gostei de pagar o ônibus e ninguém me cobrar a passagem, gostei de andar na rua sem medo de alguém me pegar, gostei do respeito no trânsito, na rua, nos espaços.

Resolvi então ir embora para outro lugar: a Austrália. Tenho amigos queridos por lá que seriam minha referência no momento difícil que eu estava. Comecei a juntar os papéis, a organizar os passos para o visto. Numa agência escutei: "a única coisa que você não pode ter para ir para a Austrália é tuberculose, porque eles desconhecem o tratamento da doença e não tem nenhum caso no País. Está tudo bem com seus pulmões ne?". Óbvio que estava, pensei.

Os dias foram passando, e cada vez mais eu me dedicava a procurar coisas sobre o curso que eu faria no outro lado do mundo. Já não saía muito do quarto, queria que passasse logo os dias e que chegasse a hora de embarcar. Parecia uma fuga. Mas era mesmo e eu tinha todos os motivos pra querer fugir daqui. Não ia pagar um preço tão alto de deixar minha família aqui à toa.

Até que os dias foram ficando longos demais. Estava incomodada com minha falta do que fazer, uma vez que sempre fui de fazer tanta coisa de uma vez só. Decidi atender umas crianças num abrigo aqui perto de casa, até o momento de ir embora. E no primeiro dia de trabalho, senti calafrios e um pequeno mal estar. Cheguei em casa, coloquei o carro na garagem e fui para o meu quarto. Não consegui chegar até minha cama...de repente uma falta de ar absurda, muita tosse e muito vômito. Fui levada para o hospital, tomei um pouco de oxigênio e já estava me preparando para voltar quando o médico disse: "Renata? está bem?". Estou sim, já quero ir embora. Pode não querer esse remédio para o vômito porque já passou? Ele disse: " Não, vai ser necessário tomá-lo mais um pouco." Pensei: nem podemos escolher o que achamos ser melhor pra gente, mas paciência, esperar o outro pra me liberar. E o outro veio. Dirigindo-se à minha mãe disse: "Como ela chama?" Eu disse: Renata! "Ó, seguinte, vou ter que te internar, seu raio-x não veio bom não". Falei: Mas eu estou bem, posso ir pra casa e voltar amanhã? Ele disse que não...

E aí começou uma história difícil, mas muito importante. No outro dia cedo, eu estava isolada, com pessoas usando máscaras pra chegar até a mim, e com o recado que um pneumonologista viria me visitar em breve. Ele veio, conversou comigo e disse: "Renata você tem um quadro avançado de tuberculose, vamos ter que fazer alguns exames". Eu estava com o oxigênio e o aparelho de nebulizador no nariz. Tirei os dois e falei com ele: Tuberculose?!? Tô no século dezoito? E ele já foi logo voltando com o aparelho pro meu nariz.

Dessa parte até a que estou hoje, gostaria de passar uma borracha. Esquecer os dias de cama, de vômitos, de fraqueza. O importante é que tive mais de 26 dias para pensar no porquê de tudo isso comigo. Como eu tinha tantas lesões nos pulmões e como isso foi se alastrando dentro de mim. Parei de perguntar o porquê, e comecei a bater no pra quê! E fui encontrando muita sujeira que eu guardei debaixo do tapete, muita mágoa, tristeza, decepção. O tratamento iniciou e fiquei internada três vezes por conta dele. Os remédios pra mim eram como bombas que explodiam a doença mas todo o meu organismo também. E eu só vomitava, vomitava, vomitava.

Nesses dias, apareceu muita gente pra ajudar. Uma ajuda que não necessariamente tirava o meu vômito ou a minha perda de peso ou minha fraqueza. Mas ajuda humana, que me fazia acreditar que aquilo tudo ia passar uma hora. Minha família é única, especial, diferente. Meus amigos são preciosidades que não se encontram mais por aí. Algumas pessoas seguravam minha cabeça enquanto eu vomitava, e essa ajuda pra mim era a maior do mundo naquele momento, porque eu de tão fraca, não conseguia segurar o corpo. Outros, faziam preces em silêncio, abastecendo o meu organismo de energia que eu precisava tanto. Formou-se uma grande corrente, que eu não tenho noção da dimensão.

Fui internada novamente e descobriram uma sequência de coisas... entre elas uma hepatite medicamentosa muito forte. Suspenderam então todos os remédios que eu tomava. Só da tuberculose eram seis. Foi aí que comecei a me alimentar novamente. Tirados os demônios que me bombardeavam, pude comer. Passei fome, com vontade de comer, com comida, sem poder segurar no estômago. Fome dói, nunca imaginei que fosse sentir isso.

Depois de biópsia, tubo no pulmão, exames, furos, injeções e vômitos, veio a melhora. Uma melhora muito rápida, uma sensação estranha que não consigo descrever. Mas era uma vontade de comer tudo, de viver tudo, de andar dentro de casa, sentar na cama, tomar banho sozinha. Uma renovação que mudou meu quarto, retirando lembranças de um tempo que não quero mais lembrar, mudou meu pensamento em relação aos pobres humanos que eu tinha raiva, mudou minha percepção do meu corpo e mente. Vi que a medicina ainda é muito primitiva, mesmo com tanta tecnologia. Ela não trata uma pessoa, trata uma coisa na pessoa sem se importar o que tudo na pessoa vai sentir. vontade de gritar: EU NÃO SOU SÓ UM PULMÃO. PAREM DE ME MATAR TENTANDO SALVAR. E eu gritei. Procurei terapias alternativas, tratamentos diversificados. A doença sumiu do mesmo jeito que apareceu: do nada. E agora estão investigando que tipo de PNEUMONIA é essa que eu tenho.

Esses dias foram um tempo difícil mas posso dizer com certeza absoluta que foi o tempo mais importante da minha vida. Onde pude fazer escolhas que me deixaram novamente de pé. Nada além da sua saúde tem importância quando você está achando que vai morrer. Nada. Nem trabalho, nem dinheiro, nem namorado, nada. E quando você volta desta experiência, volta diferente, mais forte, equilibrado. Os desejos são coisas simples: segurar o sobrinho no colo, ver a luz do sol de pé, tomar água no filtro, comer sem ter que escorar. Escrever.

Não cheguei ao final do processo, mas estou no meio de uma transição. Um ciclo de muitas coisas difíceis está se fechando e eu já vejo a abertura de outro aqui dentro de mim. Estou no caminho, bem mais leve que outros já passados. Bem mais feliz também. Lembrei da frase do Jung, que um amigo me escreveu: "Quem olha pra fora sonha, quem olha pra dentro desperta"...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

De volta

Estou de volta e às voltas com a sedenta vontade de viver.
Saudade da escrita, de andar na rua, de sentir o sol.
Em breve novos escritos e nova vida...