segunda-feira, 30 de junho de 2008

Citação

"Quando se conhece alguém muito de perto, parece-nos ocioso tomá-lo como assunto. A intimidade duma história esgota seu pretexto (...) Os poetas nascem cegos dos encantos da terra; tudo o que os inspira são transfigurações das coisas que abandonam, de paisagens que os devoram e que se sustentam do seu sangue..."
Agustina Bessa-Luís. Porto, 1979.

domingo, 29 de junho de 2008

O início

Mudei o início do blog. Não é sempre que podemos mudar o início das coisas. Quando posso, mudo! Mas quero tecer agora: retalhos e pedaços, fuxicos não.
Vira inteiro hora dessas. Vira "causo" bom de contar...

sábado, 28 de junho de 2008

Calendário

Sempre achei incrível a forma que os povos fizeram seus calendários. O nosso, nos faz planejar nova vida a cada ano, reforçados por promessas na virada. E as semanas? Você chega realmente a acreditar que no sábado está menos cansado que na segunda, ainda que os dias sejam acumulativos. Semana nova, fim de semana, ano novo e virada de século são criações para que os dias não sejam um tormento infinito, sem pausa e recomeço. Os recomeços são necessários à motivação da vida.
O que sempre odiei nos calendários são os dias de. Dias marcados por alguma coisa boa ou ruim que de tempos em tempos são lembrados às vezes com a mesma dor da data anterior. Ótimo comemorar o dia do nascimento de alguém, mas e se esse alguém já se foi? Muito bom comemorar o dia do primeiro beijo, mas e se esse beijo já não acontece mais? Os dias D, continuam a me irritar mais ainda quando são associados ao poder de compra que eles podem ter.
Espero não ligar para isso em breve. Espero matar o calendário por algum tempo.
Deixar os dias passarem sem o compromisso com as datas guardadas na lembrança. Para todo lado que eu viro, dói lembrar. Dói as costas e deve ser o peso das lembranças que não vão embora tão rápido quanto as horas do dia.
Ainda bem que o hoje acaba daqui a pouco. Amanhã é outro dia.

Noite

A noite caiu. Já é outro dia.
Nasce dia novo e traga milagres

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ponto final

Acabou. Vá embora. O ponto não aponta a saída. Apontador.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Tulipas


Andava em outro ritmo quando encontrava as tulipas pelas ruas afora. Eram tantas e brotavam a cada dia mais, com cores impensáveis até então para as flores. Sensação de ter encontrado a primavera e com ela um novo ritmo para a vida. Tempo de parar para perceber as coisas, os acontecimentos e detalhes. Tempo meu, de andar no meu instante sem atropelar o que eu sinto, penso e desejo. Como dizia Lacan, instante de ver, compreender, elaborar...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Para Rafael


Rafael tem um ano e mal consegue pronunciar o seu próprio nome. No entanto estava comigo no momento em que fiz essa foto e ele disse: "Iguejinha Pampulha"! Senti orgulho dele e ocorreu-me que depois de tantos lugares, descobri que não sou de lugar algum. Mas sei o que deixo neles e eles em mim.

Rafael meu pequeno lindo, a nossa "Iguejinha" pra você...

Conquista

Depois de toda confusão estava sempre com uma vontade de dormir. Uma satisfação em ficar debaixo das cobertas, como se elas fossem me proteger de tudo e de todos. Ficar muito tempo deitada me deixa com dores, então tive que fazer alguma coisa por mim.

Foi quando resolvi realizar sonho antigo e quase impossível considerando as dificuldades financeiras que esse sonho custava. Nunca tivemos dinheiro, mas sonho sempre me sobrou e apostando nele esperava conseguir um dia conhecer a Europa.

Então era hora e tempo certo de ir. Juntei o que sobrou dos anos de trabalho e fui sozinha. Decidi que seria em breve, em menos de duas semanas. Não houve planejamento nem dúvidas, só vontade e tentativa de sair de debaixo das cobertas.

O destino seria Lisboa, onde tenho um amigo que acompanhava aflito os últimos acontecimentos e tempestades. Só sabia que iria até ali, descansar, conversar, esquecer.

Mas de lá tudo foi fazendo sentido. Outros caminhos se abriram e fui a outros cinco países além de Portugal. Contatos de amigos antigos, que nunca se perderam pelas distâncias e que havia reciprocidade de carinho e admiração. Outros que conheci no caminho mesmo, a partir de um nada que fez muito sentido nos trinta dias dessa descoberta e realização.

Confesso que não foi fácil. As malas, as línguas e as diferenças foram desafios de todo dia. Mas quando é que todo dia não deixei de viver nenhum? O pensamento de que um dia, talvez pelas consequências da espondilite, não poderia fazer isso sozinha, me davam força o tempo para descobrir cada caminho novo do mundo velho.

De repente, tinha ido a 15 cidades de seis países e em cada uma delas, encontrei algo além da Primavera que irradiava esperança de vida. Encontrei pessoas, flores, risos, fotografias, arte! E como a arte cura meu Deus... Ela desperta o olhar pra além do nosso sofrimento. Muda a direção das nossas lentes que vêm somente a dor. Desperta desejos, sonhos e fascínios cobertos até aqui. Descobertos agora.

Cada lugar merece o seu lugar. Aos poucos escrevo sobre eles. O que importa agora é o que sempre soube e agora tenho certeza. Quando você realmente deseja uma coisa, ela pode acontecer. Cuide dos seus desejos, portanto.

Não entendo

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo(...) O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." Clarice Lispector

Anúncio

Entrei no hotmail hoje e vi um anúncio em letras garrafais: " QUER NAMORAR EM CINCO MINUTOS? PAR PERFEITO! CLIQUE AQUI"
Por essas e outras que tenho desânimo às vezes. Uma que continuam vendendo sentimento por aí, outra que há quem os compre. Não, não quero um par perfeito e um namoro em cinco minutos. Quero mais, muito mais que isso! Quero gente de carne e osso, que aposte no que eu aposto. E de nunca encontrar, cansei de procurar. Que me achem um dia se quiserem também.

Água na bacia

Meu avô continua com suas pérolas.
Hoje ele me disse que é dia de São João e dia de ver se a nossa sombra tá na bacia d´agua. " Se não estiver é zebra!" Contou-me outras coisas, que guardo só pra mim.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Vôo

Hoje meus amigos me fizeram voar.
Mais um pouco e ia pro céu, viva.
Se estiverem bem, fico também.
Vice-versa!

domingo, 22 de junho de 2008

Nossa Senhora do Rosário

Amanhã é o dia de Nossa Senhora do Rosário. A protetora que escolhi pra minha vida. Mãe dos homens pretos, do congado, dos catopês, pobres e simples. A festa do Rosário é uma das minhas paixões. A igrejinha azul, as bandeirinhas, o mastro e a dança dos negros, tudo me emociona. No ano passado estava na festa. Foi um dia emocionante e muito feliz. Decidi-me casar numa igreja do Rosário, com vestido simples e fitas coloridas no cabelo. Sonho que durou menos de um ano. Menos que uma festa do Rosário.
Minha vontade é reviver aquela festa, aquela emoção e aquelas pessoas com uma fé imensa e firme. Entraria no rio dessa vez, de roupa e tudo e pegaria nela, afim de pedir-lhe que cuidasse de mim... Ainda lembro daquele sino na mão da velha, dos reis e rainhas pretos, dos fogos de artifício. Saudade do tempo que o que assustava era fogo no céu. Mãe do Rosário, cuida de mim.

sábado, 21 de junho de 2008

Flores de longe para alegrar o dia

Postura

Há alguns meses descobri uma doença rara, auto-imune e degenerativa.
Pensei por algum tempo que não fosse verdade, que os exames estivessem errados e que nada aconteceria. Alguns dias depois não conseguia me mexer quando levantava pela manhã. Doía muito... quase todas as minhas articulações. No entanto, a medida que fui entendendo sobre a doença, ela parecia menor. Antes um monstro que assustava, hoje uma possibilidade de qualidade de vida. Curiosamente é uma doença que acontece com maior frequência em homens. Devo ser muito macha mesmo para ter isso.
Os dias foram passando e encontrei alento no meu companheiro na época, em meus amigos e alguns familiares que souberam a seu modo. Cura, por enquanto não tem, mas quando me lembro da primeira médica que fui vejo que a medicina está longe de saber do que acontece exatamente no corpo humano... Por isso aposto tanto na mente.
Ouvi falar em cadeira de rodas com 29 anos e isso não era justo também. Não naquele momento, topo da carreira e da vida. Por fim, vi que não seria o maior problema se isso acontecesse, o maior problema seria desistir de tentar tudo que tivesse. Tudo é pouco, mas é muito. O que me deixou muito triste na época foi o fato de ser uma doença auto-imune. Era como eu me voltar contra mim mesma. Inaceitável por esse lado, mas compreensível tendo em vista o modo de vida que sempre levei, preocupada com coisas de trabalho, viciada nele.
Bom, hoje é diferente. Tenho dores mas não me consomem mais como antes. Pedi ao céu que me ajudasse, e acredito que me ajudou muito. A espondilite anquilosante é hoje um nome feio, mas não um bicho de sete cabeças mais. Tento todo dia não deixar que aconteça o que diz a internet, os médicos e os livros.
É muito interessante como você começa a valorizar coisas que não fazia antes: subir escada correndo, correr, segurar criança no colo, ficar confortável na cadeira do cinema. Cuido mais de mim hoje, graças a espondilite. De tudo, não foi pra me deixar torta que isso aconteceu, mas acredito que para me manter ereta e com postura diante da vida e das coisas...

Durma medo meu

Ouça essa música e lembre-se de mim...

Durma Medo Meu
O Teatro Mágico
Composição: Indisponível

Todo o chão se abre
No escuro, se acostuma
Às vezes a coragem é como quando a nova lua

Somos a discórdia
E o perdão
E nos esquecemos da cor que tinha o céu
Assim como a saudade
Ou uma frase perdida

Durma, Medo Meu
Durma, Medo Meu

Um não, às vezes um "não sei"
Janela, madrugada, luz tardia
E o medo nos acorda

Pára e bate o coração
Em pura disritmia
O medo amedronta o medo
Vela, madrugada, dia,
Assim como a saudade
Ou uma frase perdida

Durma, Medo Meu
Durma, Medo Meu

Claridade no escuro

Na madrugada ela estava insuportável. Dessa vez na articulação têmporo-mandibular. Procurei o melhor remédio: João Pedro estava aqui em casa e o peguei pra dormir comigo. Às duas da manhã estávamos dançando teatro mágico e esqueci da dor. Dançamos muito até vir o sono dele porque o meu foi substituído pela vontade de vê-lo dormir daquele jeito gostoso e inocente. Às sete ele acordou sorrindo pra mim...

Escolha sua

A escolha é sua. Um semáforo ou reticências? Não gosto de coisas que determinam, prefiro acreditar que vem algo depois no caminho.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Saudade

Please, disturb me!

Ganhei uma blusa outro dia com a frase: “ Please, disturb me!”. Não sei se há outra frase que combine mais comigo, afinal, pareço ter escrito na testa um convite para que venham me perturbar. Não sou Psicóloga à toa. Enfim... Hoje resolvi inaugurar a blusa com os tais dizeres e atropelei uma moto. Não suporto quando eu mesma me perturbo.

Cinco de setembro

Fiz um acordo com um grande amigo meu: o de escrever todos os dias, parte do meu dia. A razão pode ser um registro de memória, uma lembrança. Uma forma de existir deixando uma obra. Não sou existencialista, mas sempre pensei que o quando o homem escreve algo e morre, ele fica. Da mesma maneira quando se tem um filho e seus genes vão se perpetuando. Como naquela brincadeira “hoje não!” onde você dá um tapa na cabeça do camarada e ele vai dando em outro e outro e outro... isso também deve ser existir, porque existência não é um conceito muito longe da prática, o contrário! Existir é prática, talvez menos que pensar. Heresia! Pensar é existir, mas confesso que estou morrendo de preguiça dos pensamentos complexos, das masturbações mentais, do ego e da vaidade. Ainda que com preguiça, não fujo à regra. Sou vaidosa com meu pensamento. Cuido dele mais que de minha própria pele, e confesso também que isso pode ser uma incrível burrice, afinal estou no mundo da aparência, do físico, da imagem. Quero um creme para massagear o pensamento.

Importante

A perda não é o mais importante da história.
O que é realmente importante é o que se faz com ela.

Perda

No dia em que ela se foi, aconteceu muita coisa.
Revivi na porta do hospital que ela estava o horror de um mês anterior. Ele, ex presidente de uma multinacional, achou que pudesse ter tudo, inclusive o sentimento das pessoas. Comigo viu que nem tudo pode ser comprado, nem tudo pode ser determinado pelo poder. Esse deve ser o seu grande tormento. Ser mulher não significa ser deslumbrada pelo poder e almejar coisas. No momento não consigo definir o que é ser mulher também, só o que não tenho que ser. Basta por hora.
Não consigo definir a perda também, diante de tantas ao mesmo tempo: Minha avó, meu trabalho, a pessoa que eu amava e meu sossego. Dias de inferno e pesadelo, de tormento e encontro com o real da violência. O covarde colocou uma arma na minha cabeça e me prendeu com algemas. Torturou até se dar por vencido diante de sua covardia. Nesse dia, eu morri e voltei a viver. E agora, quero parar de morrer.

Esse blog

Este espaço nasce de uma tentativa de existir de alguma maneira diante de perdas sequenciais e significativas num mesmo dia. Nunca aprendi tanto em tão pouco tempo. Nunca sofri tanto também. De toda maneira, o que não consigo dizer é traduzido em linhas que são analisadas por mim mesma, de tempo em tempo. Sinto que as palavras não estão amargas, mas com um quê de tristeza misturado com um desejo de melhora e superação. Esse espaço nasce de uma tentativa de viver de algum jeito, de querer produzir e alcançar algum sentimento no outro que lê. Desabafo ético com o comprometimento do que eu sinto traduzido em letra.

João Pedro


Foi em você que pensei no momento de desespero. Seu rostinho, suas mãozinhas, seu olhar pedindo colo. Foi você que me fez revirar o jogo covarde de uma mente doente e insana. Agora estou aqui com você. Posso acompanhar suas primeiras descobertas do seu mundo doce. Pego cada detalhe, cada gesto que me faz alimentar minha alma de esperança tola de mundo melhor. Vendo você agora, deitado na minha cama com a música que coloquei para ti, penso que nem tudo está acabado e que sempre vale a pena recomeçar quando se tem algo tão precioso na vida. Não sei definir o sentimento que tenho por você desde o instante que estava dentro da barriga da sua mãe, mas sei que você é o meu melhor presente e desejo que o mundo seja mais humano para te receber quando der seus primeiros passos. Quero estar aqui para vê-los meu tatu-bolinha...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Pensamento bobagem 1

Ia postar uma bobagem aqui, conclusão imbecil. Deixei pra lá. O mundo já tá cheio disso.

Meu avô e a web cam no céu

Meu avô quer saber o por quê não inventaram ainda uma web cam pra falar com quem tá no céu. Ele sempre me deixa sem saber o que dizer...

Que País você quer para os seus filhos?

" A gente não sabemos escolher presidente,
a gente não sabemos tomar conta da gente,
a gente não sabemos nem escovar os dentes,
tem gringo pensandno que nóis é inteligente,
Inútil
A gente somos inútil,
Inútil
A gente somos inútil..."
Ultrage a Rigor

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Primavera se foi

Primavera

Pela primeira vez, senti a primavera reinando sozinha com todas as cores e movimentos que lhe pertencem. Não sei se consigo expressar aqui o que ela me transmitiu: Êxtase de vento acariciando seus cabelos sob um frio manso com sol de montanha que aquece sem esquentar.
Naquele dia na Alemanha, aconteceu algo que é maior que ver a primavera: senti-la, como eu em você e você em mim... Dentes-de-leão voavam em quantidade enorme por todo o parque e pessoas andavam dentro do cenário dividindo espaço com as cestas de flores azuis nas bicicletas. Parei um momento e agradeci a Deus, à vida e ao universo por aquele momento: mágico, único e meu. Quando me dei por totalmente agraciada de tudo eis que surge uma gaita escocesa tocando a música daqueles dias só para mim. Música que eu havia escutado assim, coincidentemente, em todos os lugares que eu pisei fora do meu País. Se abir os olhos e deixar o acaso te encontrar durante o dia, vai saber o que é ter extrema felicidade que dura segundos. Acaba rápido! por isso tem que estar atento ao toque dessa dama que não avisa se vai estar ali de bobeira ou não. Ela aparece do nada e te marca com um selo daquele tolo sorriso de esperança de encontrá-la novamente...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Le fabuleux destin d'Amélie Poulain

Justiça

As palavras por si só não valem nada, graças aos que mentem.
Para se provar, tem que ser aprovado por alguém.
Acredito então na justiça interior, a de fora não pode ajudar.
A de dentro corrói a alma do covarde até que ele apodreça sob o próprio domínio de seus pensamentos. Ninguém suporta a própria mentira por muito tempo.

Manipulados

Amarelo, branco e pardo. Toda noite, até passar.
Há coisas que são difíceis de engolir, mas dizem que um dia farão bem.
Serotonina, adrenalina e sono podem ser comprados em farmácia.
Sentimento não.

Sem título

Posso viver sem você e sua companhia.
Sinto raiva de mim por ter acreditado que tudo poderia ser para sempre. Não pode.
Nada é de ninguém para sempre. E ninguém é para ninguém para sempre.
Lamento que os leitores enxerguem o pessimismo em minhas escritas, mas é que otimismo e intensidade não andam juntas em minha vida. Se otimista, sou superficial e se sou intensa sofro como parideira em beira de rio seco e sujo. Não me importo de ser intensa como sempre fui em todas as coisas ainda que sofra em todas as coisas. Há os que vêm para serem comuns, outros que o oposto sem assim o planejar. Natural como a condição da existência em que só se pode fugir se optar pela alienação. Quem me dera optar por ela, mas agora me encontro num caminho sem volta. Não há forma de voltar á ignorância apaziguadora da alma. O que dizia mesmo? Que posso viver sem você e sua companhia. Viver não é estar com os olhos abertos. Antes: abrir os olhos para a vida.

Ela se foi

Ela se foi e deixou o sorriso de lembrança. Hora difícil para perder alguém que se ama tanto, mas qual é o momento certo de perder alguém? Talvez a melhor maneira de se viver seria a que instigasse o modo de vida em que ninguém tivesse a pretensão de TER as pessoas.
Ela se foi e deixou a certeza de que vale a pena amar alguém com intensidade e respeito. Pra se ter história, pra se fazer seqüência na vida de outros e aprimorar o que temos dentro da casca, aquela parte que não apodrece para alguns.
Não sou capaz de aqui designar palavras de homenagem. Sou parte dela e dela virão outras partes... Pessoa assim não morre nunca.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Manjerico

Comprei um pé de manjericão pra dar gosto e cheiro nas coisas.
O manjerico está na pizza favorita, na festa de Santo Antônio em Lisboa, no tempero do pesto com pasta que me derrete de vontade de comer.
Comprei um pé de manjericão para sentir o gosto de dias bons. Quando cheguei percebi que junto dele trazia cactos verde. Por mais que eu queira o cerrado jamais sairá de mim, mas junto deles dois trouxe flor de azaléia que murchou, mas que em próxima primavera estará exuberante e perfumada. É o meu desejo.

Fardo fado

Ouvi o primeiro fado na estrada de volta a Lisboa.
Todos têm um fado para cantar porque todos já viveram tragédias amorosas.
Penso que se suportas um fado por vinte minutos, as coisas cantadas são menores que suas coisas vividas. Eis o motivo por eu suportá-los horas e horas e horas.
O fardo que se carrega é mais doído que o fado que se vive.

Título

Não se coloca ponto final em título.
Ele pode ser o começo do recomeço.

Ter ou não ter

Tenho dores de tanto caminhar procurando por mim.
Tenho dores de tanto caminhar procurando por.
Tenho dores de tanto caminhar procurando.
Tenho dores de tanto caminhar.
Tenho dores de tanto...
Tenho dores de.
Tenho dores.
Tenho.
Não tenho.
Tudo pode acabar.

Restos

Quando o caminhão parou não imaginava que aquela cena traria água aos olhos. Caixas empoeiradas e tábuas enroladas em lona, restos de um relacionamento intenso e anteriormente eterno. Histórias se não são contadas transformam-se em trapos e coisas comuns, em lixo. A sorte é que outras mãos podem dar outro sentido ao resto que sobra. Outras pessoas podem resignificar as histórias e modificar o contexto de uma caixa empoeirada. Foi minha mãe que me ajudou a mudar essa história. Muita água, sabão e vontade. Em dois dias era outro quarto, outros móveis, outras cores. Em cada coisa tirei as lembranças do outro que era parte de mim e coloquei minha vivência. Enfeites do outro lado do mundo que conquistei sozinha, novos objetos, nova forma de arranjo. E ao dormir, era outro lugar, ainda que com visão semelhante ao velho e cheiro antigo de dias felizes. Engano pensar que o tempo que se passou é o tempo feliz da sua vida. O tempo de agora é que é. O tempo que vem, novo em folha para desenhar os seus dias e reescrever sua história. Existirão sempre os restos, e sempre a pergunta sartreana que me acompanha: o que farei com o que fizeram de mim até aqui? Hoje sei que com a ajuda de outras mãos posso, aos poucos,deixar as marcas desaparecerem por si mesmas e com o resto de mim, fazer tudo. Tudo novo.

Detalhe

No canto do quadro uma cena que ninguém percebe. Muito semelhante às nossas vidas. O surpreendente disso é que eu pude ter a certeza por alguns instantes que realmente é possível não enxergar mesmo que a coisa esteja ali estampada na sua frente, gritando como virgem desvirginada. Naquela época deveriam ter viseiras aos olhos como a de certos animais até hoje. Pior que viseira, algo pregado no olho que distorce o olhar para o que se quer ver e ninguém quer ver o insuportável. Estava ali no quadro, o homossexualismo, a critica ao deus inventado, o homem desfalecido de seu poder fálico e absoluto. Estava tudo ali, não enxergado e colocado nos altares das igrejas mais ortodoxas e sérias da época. O gênio não o era por ter pintado sem tintas, mas por ter exposto algo que só o olhar de alguns poderia ver. Mais uma vez a diferença sublime entre o ver, enxergar e olhar...

Cabeça erguida


domingo, 15 de junho de 2008

Serenata

Serenata é fácil.
Ser Renata não.