sábado, 9 de agosto de 2008

Paciência

Carta para o João Pedro

O que eu escrevo não é verdade, é a minha verdade. E hoje, dia do batizado do meu único sobrinho, quero escrever para ele uma história que tem a ver com esse dia.

João Pedro,querido.

Confesso que fiquei muito irritada com o curso de batismo que tive que fazer para ser sua madrinha hoje. É que não suportei escutar que SÓ agora você tem Deus e que SÓ por este caminho que as pessoas O descobrem. Mas hoje, senti muita alegria em poder batizá-lo ao ver sua carinha tão boa e risonha.

Quero portanto, contar para você uma história sobre o seu nome que tem a ver com tudo isso que presenciamos hoje.

Há muuuito tempo atrás, 2008 anos pra ser precisa, nasceu uma pessoa com o nome de Jesus. Os pais deles se chamavam José e Maria - duas pessoas muito sábias que criaram o garotinho para ser o Filho de Deus. Ele precisou passar por tudo que você está passando agora: aprendeu a sugar, a coçar o dentinho, a fazer brrrru e tudo mais que você descobre todo dia. Pois bem, Jesus cresceu e se tornou um homem popular e revolucionário. Um grande revolucionário que dizia sobre o amor e sobre a fé o tempo todo. Se sua tia fosse viva naquela época, ela gostaria de tê-lo como amigo bem próximo, porque ele era simples, curioso, tinha amigos de todos os jeitos (cego, rico, prostituta, pobre, escravo, bom, mal, etc) e gostava de todo mundo pelo jeito que a pessoa era e mais! saía por aí fazendo o bem às pessoas.

Meu querido, infelizmente ele foi pêgo e morreu. Injustamente e com muita covardia. Ninguém podia sair por aí dizendo que é filho de Deus e tal... mesmo hoje, 2008 anos depois, a pessoa que ouvi por último dizer que é filho de Deus com tamanha certeza que a de Cristo, foi parar no hospital psiquiátrico que eu trabalhei há anos atrás. Um homem que está amarrado em algumas horas do dia, internado e correndo com a palavra do Pai dele pra cima e pra baixo sem conseguir passar pelo portão do hospital. Pra você ver que não era problema de época...

Pois bem, Jesus antes de morrer, ensinou muitas coisas às pessoas e fez vários amigos. Um deles se chamava João e esse escreveu sobre o trajeto de Jesus até o dia que foi crucificado (depois te explico o que é isso); outro se chamava Pedro e era um amigo que Jesus gostava muito. Era pescador e o fundador da primeira casa que ia esparramar quem foi Jesus. Mas João e Pedro eram humanos e erraram também. Dos erros do João não posso falar, mas os de Pedro tem um que é conhecido mundialmente. Ele disse a Jesus que nunca o negaria em vida, mas quando Jesus foi pêgo perguntaram para Pedro se ele era amigo do "maluco" que dizia que era filho de Deus e Pedro o que fez? Disse Não! Não conheço este homem. Mas não quero que você julgue o Pedro por causa disto, sabe por quê? Porque existem momentos na vida da gente que temos que escolher entre a vida do outro e a nossa. E não é crime escolher a nossa ta bom? (polêmico demais, depois conversamos sobre isso se você quiser).

Aí João, teve um detalhe importante. Quando Jesus morreu, todo mundo percebeu que estava cometendo injustiça, que realmente era um filho de Deus que estava alí na cruz. Muita gente faz isso até hoje também, condenando pessoas inocentes e deixando soltas pessoas criminosas. Provavelmente você vai ver muito disso ainda também.

Só que foi tarde. Jesus já havia morrido e não tinha mais jeito. Então depois de três dias algumas pessoas bem sensíveis que vêem espíritos viram o de Jesus. E então esse dia foi marcado com festa, porque viram que não necessariamente a morte física é a morte espiritual e a festa se chamou páscoa. Até hoje temos no calendário esta festa e você vai gostar muito, tenho certeza. Tem uma história aí de chocolate que não tem nada a ver... mas o povo tem que ganhar dinheiro com tudo então deram seu jeito.

Passada toda essa confusão, Jesus virou o mestre dos mestres e abriu caminho para outros, assim como também deve ter se inspirado em outros. Muitos homens foram especiais por suas revoluções na Terra. Jesus fundou o cristianismo; Maomé a crença muçulmana, Ghandi a revolução sem violência, Kardec o espiritismo, Cleópatra administrou uma civilização tida como caso perdido, Chico Buarque fazia músicas que denunciavam a injustiça do governo brasileiro, e outros tantos Josés, Marias, Joaquins que fazem todos os dias parte de suas próprias revoluções. Umas maiores, outras nem tanto. Isso que quero te falar, que você também pode fazer uma se quiser. Na sua casa, no seu bairro, na sua Cidade, no seu Estado, País e mundo! Se não quiser, tudo bem também. Nem todos nascem para revoluções e exercem igualmente importantíssimos papéis como ser humano.

Ainda sobre Jesus, ele continua mestre pra muita gente. Pra mim também. É meu exemplo de sabedoria e mansidão. Queria ser como ele às vezes e quando alguém me fizer uma pergunta, eu abaixar, riscar com um pedaço de pau a areia no chão e só depois responder. Ele tinha tempo pra tudo: pra pensar, pra falar, pra colher, pra plantar...

Então, o seu nome veio dessa história e significa luz e força. É o que você é pra gente, desde que nasceu...

Ah, e me lembra de te contar o que você fez na hora que o padre molhou na água sua cabecinha... Você é uma figura!

Amo você, beijo grandão.

Titia.

08-08-08

Acordei com a sensação que um caminhão tinha passado em cima de mim. Não foi a toa que voltei literalmente rebocada pra casa... o carro não funcionava. Sensação de caminhão passando em cima de mim e visão real de um ônibus passando em cima da chave do carro. Não ligava, não andava, não nada. Enfim... dia do "portal se abrir", data mística, esperançosa. Foi o dia que o Danilo partiu para sua girada no planeta, de bicicleta. Acompanhando os primeiro doze quilômetros, tive uma noção da dificuldade que seria uma volta ao mundo. Realmente, não é pra qualquer um sair por aí dando voltas e voltas. E eu aqui, dando voltas e voltas pra tentar descrever as carinhas dos meninos na instituição que ele visitou antes de partir. Não consigo relatar cara de menino sonhando...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Estrelas do Jequi

Era uma casa simples de chão batido e sem forro no teto. Senti na pele uma mudança compulsória, mas passado o susto da diferença, tomei a como minha rapidamente. Era uma casa especial e me dava, quase todas as noites, a sensação de mergulho no silêncio de uma imensidão escura com pontos brilhantes.
Caía a noite seguida do crepúsculo mais bonito que eu havia visto. Mistura de cores. Pintura divina e algo mais próximo do que imaginava ser a perfeição.
Nesse dia não fui ver o céu, até que no silêncio de uma leitura, ouvi uma voz aguda que gritava insistentemente um beabá.Uma professorinha. E ela gritava para os alunos que todas as noites iam ao cercado de madeira, porta dividida ao meio, tramela na janela aberta, única luz que eu avistava. Ainda que a voz fosse um grito, não tinha curiosidade maior. Bê com áaaaa: Báaaaaaaaaaaaaaaa.
Sob luz fraca, os alunos eram velhos atentos, inseguros com o lápis nas mãos, trêmulos, traçando primeiras letras de um caminho com a mesma escuridão do infinito. Mas como no caminho, estavam debaixo de um céu inesquecível, magnífico, de pequenas estrelas brilhantes e poeira estelar. Um manto que os cobria, a minha casa e a mim. Tenho medo de esquecer aquele céu. Por isso o fiz colorido em meus ombros, até hoje e para sempre.

domingo, 3 de agosto de 2008

Pedido

Vi que eu estava pedindo errado. Achava que tudo que eu estava recebendo era "lenhada". Pedia alívio e vinha dor; Pedia força e vinha fraqueza. Não entendia e duvidei. Mas ontem, resolvi mudar o pedido. Agradeci. Muitas vezes a doença é uma oportunidade única de se conhecer e as dificuldades... bom, as dificuldades ensinam de toda forma. Parece estranho e hipócrita agradecer por uma coisa ruim, mas tudo tem os dois lados. E ontem aprendi: Se tudo é escolha, por que não escolher o melhor lado?

sábado, 2 de agosto de 2008

A segunda coisa

A segunda coisa que me deixou nesta semana, por alguns segundos, sem saber o que dizer foi um comentário de um amigo recente sobre sua namorada. Ele me disse que por toda a vida procurou alguém que fosse perfeita, que não mascasse chicletes demais, que tivesse todas as medidas coerentes e exatas, que não fosse tão religiosa, que bla bla bla. E num dia, se viu apaixonado por uma pessoa que naquele momento era tudo que ele não queria, querendo. As palavras pra mim foram como uma grande declaração de amor, verdadeira e simples ao dizer: "Amo cada risco da pele, cada falha no cabelo dela, cada amassado quando acorda e principalmente cada vez que demonstra suas fraquezas e inseguranças em seu dia. É fácil amar o que nos é ideal, lindo e perfeito. Difícil é conseguir amar o humano que é a pessoa é." E pronto. Foi suficiente para eu me calar, não pela conclusão porque penso assim também, mas por uma declaração tão inusitada e diferente. Não costumo me calar no "disfarce-a-face" das conversas virtuais e desta vez calei-me. Vontade de silêncio pra pensar em mim.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Truque

“A gente inventou um truque para fabricar brinquedos com palavras. O truque era só virar bocó. Como dizer: eu pendurei um bem-te-vi no sol.”
Manoel de Barros