quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Olhos fechados, por que não?


Tem duas coisas que eu posso dizer que eu odeio. A primeira é fazer raio-x de algum dente e a segunda é colocar colírio para fazer exame oftalmológico e não enxergar nada durante um tempo.

A primeira porque eu sempre tenho dor. Não conseguia entender porque inventaram um objeto tão pontiagudo para colocar dentro da boca que faz sentir dor para tirar um simples raio-x. Coisa mais estúpida. Mas há pouco tempo entendi que para a maioria isso não dói. Eu faço parte de uma minoria que tem uma formação diferente de ossos mandibulares chamado tórus mandibular. Isso não altera nada na minha vida e nem é considerado um problema, mas que atrapalha um simples raio-x, atrapalha. Bom, para isso não há solução.

A segunda, é um ódio mais interessante. Bem mais interessante. É que o colírio tem duas fases difíceis. A fase um é a de ser colocado nos olhos e provocar ardência. A fase dois você precisa ficar vinte minutos com os olhos fechados para o processo de dilatação das pupilas.  Hoje em dia quem consegue um negócio desses? Vinte minutos no escuro parece uma eternidade. E quem é que gosta de pimenta nos olhos? Quem gosta, gosta nos olhos dos outros, não no seu.

Pois bem. Hoje vi que um dos ódios foi transformado, transmutado em encontro. Como? Ao ficar desconectada por vinte minutos, em silêncio e no escuro, eu tive que olhar para mim mesma, não para o celular ou para alguma situação externa acontecendo. Depois do primeiro minuto de aflição, eu senti uma serenidade atípica e um relaxamento expressivo da minha mente. Foi quase um sono acordada, um alívio mental, uma desconexão com o mundo e uma sintonia comigo mesma.

É interessante como as percepções mudam de tempos em tempos e como uma coisa que você não assimilava muito bem pode ter ressignificação. Oportunidades estão sempre aí para serem descobertas, mas principalmente serem vivenciadas. É só uma questão de dar chance para algo diferente acontecer no seu corpo, no seu dia, na sua mente, no seu espírito, na sua rua, na sua casa, no seu espaço e no seu mundo. Quando isso acontece é como se uma chave virasse uma fechadura para o que há do lado de fora de uma maneira diferente e interessante.

Voltei dos olhos fechados e estava tão contente de ficar uns minutos comigo mesma que até a consulta com o médico foi interessante. Ele pôde enxergar o meu problema de vista mas também o brilho nos meus olhos que vinham da contemplação de uma meditação. Não é lindo poder descobrir isso por acaso? Mais ainda é o bem que a gente se faz quando transformamos o mal estar em algo de bem estar. Então um salve aos nossos ódios que nos mostram como podemos nos conectar melhor com o que somos. De repente ele se transforma em algo bem melhor pra gente. Viva!