quinta-feira, 19 de março de 2015

Estive a pensar no tempo. Vez ou outra eu crio a ilusão de que tenho meu próprio tempo. Talvez isso seja uma forma de justificar o tempo gasto de forma inadequada em algum momento passado ou de colocar as coisas como eu quero. A verdade é que mesmo criando o meu próprio, o tempo é a única coisa no mundo que você não tem como enganar. Quando acha que o pegou, ele te dá uma rasteira fácil. Chronos não perdoa... Ele é o deus de todo destino. Se você nasce, já está em suas mãos sem escapatória. Pois bem, pela primeira vez estou aprendendo que o tempo tem seu próprio caminho. Como aprendo? simples. Vivendo em um lugar que o ciclo existe e as coisas acontecem e mudam segundo ele. Não acredito ter sabedoria maior do que vivenciar os ciclos das coisas através da natureza, outra deusa que tem muito o seu valor. Cheguei aqui no Verão, sem impacto. Os dias foram passando e veio o Outono com muitas mudanças: cores, formas, cheiro e sensação. O Outono veio amaciar e preparar o coração pro que devasta tudo, o Inverno. Mas como é interessante saber que a devastação também é parte do processo. Você acha que devastação mata tudo e não deixa rastro, mas é engano. A devastação simplesmente assegura a fortaleza que está para renascer. A devastação limpa e corta o passado para nascer um futuro novo e mais bonito. A neve cobre tudo que pisamos, tudo que está em nossas cabeças, tudo que precisa ser enterrado. Mas ela vai embora antes que o Inverno acabe. O que encobre vai dando lugar ao encoberto, com outro aspecto. O chão foi limpo, a passagem é clara e o tempo prepara a Primavera para fazer renascer tudo. Antes que ela chegue já consegue ver os sinais. A temperatura subindo lentamente, o frescor substituindo o frio cortante e os pássaros voando timidamente enquanto arriscam voltar para o caminho de antes. A luz é mais forte e você ouve a natureza se despreguiçando. Só quem tem olhos apurados percebe num primeiro instante. Tudo é muito discreto e nenhuma mudança é brusca. Outro aprendizado.