quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Desconforto

A vida tem coisas estranhas, mas que ensinam muito. Foge às vezes da nossa capacidade de entendimento. Um dia eu estava na Suiça, comendo chocolate e comida tailandesa, no outro eu estava no hospital Julia Kubitchek numa maca no corredor sem colchão, tábua fria que doía a coluna. Com máscara, oxigênio e medo, as lágrimas escorriam dos meus olhos por várias coisas. Olhava pro lado e via o sofrimento alheio, olhava pra mim e via a vontade daquilo tudo acabar. Médicos, enfermeiros, assistentes, vinham tratar de um pulmão, de outra vesícula, do pé quebrado, mas não vinham tratar de gente, da gente. Gente não merece essas coisas, por mais filha da puta que a pessoa seja. Vi que todos somos iguais, e eu já tinha aprendido isso bem antes. Vontade de ter tido força suficiente pra não deixarem o velho daquele jeito, a menina daquele outro e eu assim. Enfim, estamos em época de eleição e vamos colocar lá "em cima" as pessoas que vão esbarrar nessa maldita política pública que nós temos. O pior que vamos eleger o cara que tá na lista do mensalão, o que financiou com dinheiro público a candidatura de outro, etc. Porque política não interessa ninguém, sofremos então as consequências. Gostamos do SUS, da falta de educação, da violência e como diz uma amiga minha, pagamos uma empregada doméstica pra ficar o dia todo em nossas casas enquanto os filhos dela ficam sozinhos na rua da favela. Isso é conforto. E tudo isso me causa grande desconforto. Não é a toa que não conseguem pegar fácil o meu sangue nos exames, porque o que eu devo ter na veia deve ser outra coisa...

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