terça-feira, 5 de agosto de 2008

Estrelas do Jequi

Era uma casa simples de chão batido e sem forro no teto. Senti na pele uma mudança compulsória, mas passado o susto da diferença, tomei a como minha rapidamente. Era uma casa especial e me dava, quase todas as noites, a sensação de mergulho no silêncio de uma imensidão escura com pontos brilhantes.
Caía a noite seguida do crepúsculo mais bonito que eu havia visto. Mistura de cores. Pintura divina e algo mais próximo do que imaginava ser a perfeição.
Nesse dia não fui ver o céu, até que no silêncio de uma leitura, ouvi uma voz aguda que gritava insistentemente um beabá.Uma professorinha. E ela gritava para os alunos que todas as noites iam ao cercado de madeira, porta dividida ao meio, tramela na janela aberta, única luz que eu avistava. Ainda que a voz fosse um grito, não tinha curiosidade maior. Bê com áaaaa: Báaaaaaaaaaaaaaaa.
Sob luz fraca, os alunos eram velhos atentos, inseguros com o lápis nas mãos, trêmulos, traçando primeiras letras de um caminho com a mesma escuridão do infinito. Mas como no caminho, estavam debaixo de um céu inesquecível, magnífico, de pequenas estrelas brilhantes e poeira estelar. Um manto que os cobria, a minha casa e a mim. Tenho medo de esquecer aquele céu. Por isso o fiz colorido em meus ombros, até hoje e para sempre.

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