segunda-feira, 3 de março de 2014

Marca

Tem coisas sociais que marcam a nossa vida de maneira singular: o primeiro beijo, a festa de 15 anos, a formatura do colégio, a entrada para a universidade, o primeiro sexo, o trabalho tão esperado, o pedido de casamento, o vestido de noiva, a notícia da gravidez, o parto, a primeira vez que o filho andou e por aí vai. Mas tem uma coisa que marca muito e essa, deixa o rastro com ferro no corpo da gente. A morte. Quem já perdeu alguém sabe que a dor dela não se compara à pior crise renal, ou à dor mais crônica que possa existir na face da terra. Não. A morte faz questão de ser ela própria, sem nada o que comparar. E ela vem pior ainda quando não leva a pessoa que morreu. Quando é simbólica e metafórica. Quando descreve o seu fracasso enquanto pessoa, que não consegue vence-la. Hoje eu senti a morte da separação novamente. Depois de tantos anos e de ter esquecido como era, ela voltou, sem dó nem piedade. Meus cinco anos com ele se foram e a marca está inscrita duplamente em mim, no meu coração e nas minhas mãos, pois quando tirei a aliança percebi que ela já tinha afundado o meu dedo anular direito e colorido de branco o seu espaço. Nessa hora não há café, chá, vinho e cachaça que resolva o problema. É a hora de sentir o buraco e quem já passou outras vezes por isso sabe que o melhor é nem tentar fecha-lo. O mais sensato é botar sal grosso e deixar doer até não querer mais. Até a morte se esvair e sumir na lembrança de todas as coisas que foram vividas. Expectativas são ilusionistas da morte. Hoje eu morri um pouco.

Um comentário:

  1. Ainda bem q desta morte a gente tem a oportunidade de viver novamente! Pois bem, viva, como sempre soube viver!

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